CNBB DIVULGA NOTA EM QUE REPROVA INICIATIVA DO GOVERNO FEDERAL DE FLEXIBILIZAÇÃO DO ABORTO
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na manhã desta quarta-feira, 18 de janeiro, uma nota na qual manifesta reprovação a toda e qualquer iniciativa que sinalize para a flexibilização do aborto a exemplo das últimas medidas do Ministério da Saúde, constantes da Portaria GM/MS de nº 13, publicada no último dia 13.
A portaria permitiu a revogação de outra portaria que determina a comunicação do aborto por estupro às autoridades policiais. A Nota da CNBB pede esclarecimento do Governo Federal considerando que a defesa do nascituro foi compromisso assumido em campanha e também sobre a desvinculação do Brasil com a Convenção de Genebra.
No documento, a CNBB reitera que “a hora pede sensatez e equilíbrio para a efetiva busca da paz e reforça que é preciso lembrar que qualquer atentado contra a vida é também uma agressão ao Estado Democrático de Direito e configura ataques à dignidade e ao bem-estar social”. Confira, abaixo, a íntegra do documento e aqui a nota em PDF.
A VIDA EM PRIMEIRO LUGAR
Nota da CNBB
“Diante de vós, a vida e a morte. Escolhe a vida!” (cf. Dt 30,19)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não concorda e manifesta sua reprovação a toda e qualquer iniciativa que sinalize para a flexibilização do aborto. Assim, as últimas medidas, a exemplo da desvinculação do Brasil com a Convenção de Genebra e a revogação da portaria que determina a comunicação do aborto por estupro às autoridades policiais, precisam ser esclarecidas pelo Governo Federal considerando que a defesa do nascituro foi compromisso assumido em campanha.
A hora pede sensatez e equilíbrio para a efetiva busca da paz. É preciso lembrar que qualquer atentado contra a vida é também uma agressão ao Estado Democrático de Direito e configura ataques à dignidade e ao bem-estar social.
A Igreja, sem vínculo com partido ou ideologia, fiel ao seu Mestre, clama para que todos se unam na defesa e na proteção da vida em todas as suas etapas – missão que exige compromisso com os pobres, com as gestantes e suas famílias, especialmente com a vida indefesa em gestação.
Não, contundente, ao aborto!
Possamos estar unidos na promoção da dignidade de todo ser humano.
Brasília-DF, 18 de janeiro de 2023
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
Segundo Vice-Presidente da CNBB
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB
DOM NIVALDO PRESIDIU MISSA NA NOITE DE NATAL
Na última sexta-feira, dia 24 de dezembro, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e Referencial na Região Episopal Nossa Senhora Aparecida, Dom Nivaldo dos Santos Ferreira, presidiu às 21h na Igreja Matriz Cristo Redentor a Santa Missa na Noite de Natal.
Com a presença de muitos fiéis, o bispo foi acolhido pelos religiosos agostinianos, que realizam a Cura pastoral na comunidade. No início da Celebração, o pároco Frei Rodrigo Antônio, manifestou a alegria e satisfação da comunidade religiosa dos agostinianos e da comunidade paroquial em acolher o bispo auxiliar na Noite Santa do Natal. Dom Nivaldo trouxe à comunidade a melhor notícia da noite: “Não tenhais medo! Nasceu para nós um Menino. O Salvador. Jesus está no meio de nós!”.
Após o Ato Penitencial, foi realizado o anúncio do Natal do Senhor através do canto das Kalendas, e após, foi acolhida a imagem do Menino Jesus, que foi colocada em altar preparado na frente do presbitério.
As Kalendas, ou Precônio Natalino, não é um ritual obrigatório na liturgia da noite de natal. O texto original encontra-se no Martirológico Romano e foi resgatado por João Paulo II. O texto faz uma recapitulação de todos os fatos importantes do povo de Isarel que precederam o nascimento de Jesus. O nome Kalendas faz referência ao início do texto, em sua versão em latim: “Octavo Kalendas Ianuarii”. Na tradição romana, o primeiro dia do mês era chamado de “kalendas” do mês. Assim, os dias próximos às kalendas eram contados em referência a elas. Por isso o dia 25 de dezembro é chamado assim: o oitavo dia antes das kalendas de janeiro. O texto em português, que se encontra no Diretório Litúrgico da CNBB, omitiu estas primeiras duas frases, iniciando diretamente com a menção dos grandes acontecimentos da história de Israel em sua relação com o nascimento de Cristo segundo a carne: criação, dilúvio, nascimento de Abraão, êxodo, olimpíadas, dominação romana, …
Durante a homilia, o bispo ressaltou que “Deus eterno abriu mão de sua condição divina, perfeita, e com tanta simplicidade enviou até nós, para nos visitar, no tempo que reinava paz sobre a terra, o príncipe da paz. Ao nos encontrar, é identificado como nosso alimento, pão vivo descido do céu.” Dom Nivaldo ainda acrescentou: “o Natal irmãos e irmãs, é a visita de Deus em nós”.
Ao final da celebração, formou-se uma procissão em direção ao presépio. O bispo tomou a imagem do Menino Jesus e depositou-a no presépio.
Dom Nivaldo visita Foranias da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida no mês de março
O bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e referencial da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (Rensa), dom Nivaldo dos Santos Ferreira, visitará as Foranias da Região Episcopal, durante o mês de março.
As visitas já começaram: no dia 02 de março, dom Nivaldo foi até as quatro paróquias da Forania Cristo, Luz dos Povos. Após conhecer as comunidades de fé, os fiéis acolheram o bispo, que presidiu Missa na Paróquia Jesus Missionário, em Belo Horizonte.
Já no dia 04 de março foi o momento de visitar a Forania São Paulo da Cruz. Na ocasião, o bispo conheceu as dez paróquias que integram a Forania e presidiu Missa na Paróquia Cristo Redentor, em Belo Horizonte. A Celebração Eucarística foi concelebrada pelos padres da Forania.
Um século de missão e fé
A jovem Igreja, Arquidiocese de Belo Horizonte, celebra um século de missão e fé. O ciclo de uma promissora história missionária foi iniciado pelo gesto canônico e zelo apostólico do Papa Bento XV. Também por meio da labuta pastoral e clarividência de Dom Silvério Gomes Pimenta, então arcebispo metropolitano de Mariana – a Igreja primeira de Minas Gerais. À nova capital mineira, pouco antes de seu jubileu de prata de inauguração, deu-se o louro de ser sede de um grande projeto de evangelização, desdobrado, fecundado e frutificado no desenrolar desse primeiro século de sua história. Era o dia 11 de fevereiro de 1921 quando a então Diocese de Belo Horizonte foi criada e, agora, chegou o momento de celebrar a caminhada centenária: do coração de Minas Gerais, de sua capital, 100 anos da concepção de uma etapa nova para um tempo novo. Uma trajetória que prossegue edificada sobre os alicerces de lições preciosas – em heranças e testemunhos -, a partir de alegrias jubilares e jubilosas. Um século de missão e de fé, repleto do compromisso com a vida, de se proclamar a Palavra de Deus, o Evangelho de Jesus, ao lado dos pobres, caminhando com eles, em diálogo aberto com todos.
A Arquidiocese de Belo Horizonte, pioneiramente presente no mundo da educação, da arte e da cultura, da defesa do meio ambiente, protagonista na comunicação, em interface com os segmentos construtores da sociedade da paz e da solidariedade. Uma história bem iniciada – tudo que começa bem, mesmo entre percalços e desafios, avança para o bem. Por isso mesmo, reverência aos alicerces lançados por gigantes na fé e no pastoreio. A pedra fundamental veio com Dom Antônio dos Santos Cabral, primeiro arcebispo, que contemplou horizontes belos e inspiradores. Esses horizontes foram fecundados pelo pastoreio sapiencial de Dom João Resende Costa, segundo arcebispo, que firmou as raízes da Arquidiocese de Belo Horizonte na mística de uma espiritualidade-fonte. Avanços extraordinários vieram com o corajoso pastoreio do Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo – conquistas pastorais e na gestão para confirmar uma Igreja Povo de Deus, construindo a esperança, enriquecida pelo destemor dos caminhos entre grandes viradas civilizatórias e culturais, na convicção de que proclamar a palavra de Deus é o fermento da história e dos avanços que sempre devem ser buscados.
O legado dessas décadas responsabiliza, contribui e inspira os servidores operários da contemporaneidade, encharcando-os de gratidão e de paixão pelo Reino de Deus – desdobradas em serviços para gerar solidariedades e, assim, edificar um mundo de mais justiça, fraternidade e paz. Essa paixão de servidores consagrados, dedicados à bela missão de se estar a serviço do Evangelho, defendendo a vida, em todas as suas etapas, deságua no oceano da beleza encantadora da fé que une o Povo de Deus. A fé, que está nas bases da cultura desse povo, constitui uma identidade missionária que exala a alegria de pertencer a uma crescente rede de comunidades, em paróquias e famílias – cada casa é lugar do amor de Deus.
Clara é a consciência de que o serviço prestado constitui gota d’água no mar de necessidades e de urgências para que, efetivamente, seja construída a cultura da paz, selado o coração humano com as marcas do Evangelho. A celebração do ano jubilar, com abertura neste 11 de fevereiro, é programação, acima de tudo, marcada por uma espiritualidade mística, desdobrada em ardor missionário, compaixão misericordiosa, diálogo permanente, anúncio corajoso e sapiencial para firmar os alicerces do ciclo novo que se abre, como broto de esperança, luz que permite enxergar horizontes. A programação envolve os segmentos da Arquidiocese de Belo Horizonte e a sociedade civil. Um tempo a ser vivido em profunda comunhão com o Papa Francisco, com homens e mulheres de toda a Igreja Católica, mundo afora, desafiados a promover uma grande reação missionária, para multiplicar gestos de solidariedade, presença do Reino de Deus na humanidade.
Edifica-se, no coração da Arquidiocese de Belo Horizonte, jovem Igreja de cem anos, impulsos e inspirações para conquistar, com galhardia, um novo centenário, cumprindo, amorosamente, a obediência inegociável ao mandato de seu Senhor e Mestre: “Ide para fazer discípulos”. As celebrações, os momentos de espiritualidade, os eventos culturais e pastorais, a coragem profética de gestos e projetos na efetivação do cuidado social, a partir do núcleo insubstituível da fé cristã católica, são alavancas para qualificar o patrimônio evangelizador, missionário e sociocultural. Todos esses acontecimentos ajudam a convencer o mundo da força do amor de Deus, fazendo com que muitos se abram a este amor.
A jovem Igreja da Arquidiocese de Belo Horizonte, com ares e traços de amadurecida, consciente de sua tarefa e de suas possibilidades, convida cada pessoa para participar da festa jubilar. Essa participação ilumina a consciência de se pertencer a um “corpo”, ao qual se deve sempre amar, prezar e cuidar. Zelo assumido por todos, reconhecendo que a vida deve ser dedicada à construção dos alicerces que sustentem um novo século de missão, com a benção de Deus, a proteção de Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais, e o patrocínio de São José. Adiante, rumo ao novo tempo, na construção dos próximos 100 anos de serviços ao povo de Deus nos alicerces da fé.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Fonte: Arquidiocese de Belo Horizonte
Ordenação episcopal do monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira
O monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira será ordenado bispo durante Celebração Eucarística na Catedral Cristo Rei, no dia 11 de fevereiro de 2021, às 10 horas – abertura do Ano Jubilar Centenário da Arquidiocese de Belo Horizonte. Será a primeira ordenação episcopal celebrada na Catedral Cristo Rei.
Os bispos ordenantes são: dom Walmor Oliveira de Azevedo, dom Joaquim Giovani Mol Guimarães e dom Vicente de Paula Ferreira.
Monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte pelo Papa Francisco, no dia 23 de dezembro de 2020.
Em razão da pandemia da covid-19, o convite é para que os fiéis vivenciem este momento especial a partir dos meios de comunicação. A ordenação episcopal será transmitida pela TV Horizonte (Canal 30, em sinal aberto), Rádio América (AM 750), outras emissoras católicas e redes sociais.
Monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira
Monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira nasceu em Barbacena (MG), no dia 3 de junho de 1967, penúltimo filho de Francisco Ferreira e Nersinha Therezinha Viol Ferreira, já falecidos. Entrou no Seminário Menor de Nossa Senhora da Assunção, da Arquidiocese de Mariana (MG), aos 13 anos. Após o falecimento de seu pai, em outubro de 1980, ainda permaneceu no seminário por mais um ano, mas voltou ao convívio familiar no final de 1981.
Ao mesmo tempo em que concluía os estudos do ensino fundamental, antigo 1º grau, em Ibertioga (MG), onde residiu com sua tia Iolanda Santa Rosa, trabalhou em uma padaria, aprendendo diversos serviços, inclusive administrativos.
Em 1984, entrou para o Seminário Menor da Congregação dos Padres Orionitas, em Belo Horizonte. Ali concluiu o Ensino Médio e deu início ao noviciado, mas deixou a congregação, em 1987. Na sequência, monsenhor Nilvado frequentou curso preparatório pré-vestibular e trabalhou em uma empresa distribuidora de produtos alimentícios.
No ano seguinte, ingressou na primeira turma da etapa do Propedêutico da Arquidiocese de Belo Horizonte. Estudou Filosofia (1989-1991) e Teologia (1992-1995) na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Foi ordenado diácono no dia 27 de maio de 1995, na Paróquia Santo Antônio, bairro Jaraguá. Foi ordenado presbítero no dia 18 de maio de 1996, na Paróquia São Sebastião do Barro Preto. Ambas ordenações presididas pelo cardeal Serafim Fernandes de Araújo, então arcebispo metropolitano de Belo Horizonte.
Já ordenado, iniciou mestrado na Faculdade Jesuíta. Em 2001, transferiu-se para Roma, onde concluiu o mestrado em Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana.
Monsenhor Nivaldo desempenhou diversas funções em seu ministério presbiteral na Arquidiocese de Belo Horizonte. Foi vigário, administrador e pároco em algumas paróquias da Arquidiocese, professor no Seminário Propedêutico e no curso de Teologia da PUC Minas. Também atuou como assessor eclesiástico da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), assessor arquidiocesano da Pastoral Familiar, vigário forâneo da Forania São José do Calafate e membro do Conselho Permanente de Formação do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus.
Atuou, de 2012 a 2018, como reitor do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus. Em seguida, assumiu a reitoria do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, no bairro da Graça, em Belo Horizonte.
O novo bispo auxiliar eleito da Arquidiocese de Belo Horizonte também foi presidente da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil no Regional Leste 2 (OSIB Leste 2), de 2009 a 2014, e da OSIB Nacional, de 2015 a 2018.
Atualmente, Monsenhor Nivaldo atua como formador e professor de Teologia para os candidatos da Escola Diaconal São Lourenço, coordenador do Grupo de Reitores de Santuários da Arquidiocese de Belo Horizonte e vigário forâneo da 4ª Forania Nossa Senhora das Dores, da Região Episcopal Nossa Senhora da Piedade, da Arquidiocese de Belo Horizonte.
DO BRASÃO EPISCOPAL
I – Deus Uno e Trino: a espiritualidade trinitária está indicada pela invocação central, na vertical, da Glória da Cruz: + Glória ao Pai (parte superior), + Glória ao Filho (Cordeiro Imolado — mártir, ao centro), e + Glória ao Espírito Santo (parte inferior).
II – A inspiração do Espírito Santo (símbolo da Pomba — parte superior central) preside toda a mensagem da “Paz, que é artesanal” (Papa Francisco). É o Espírito que pairava sobre as águas, na Criação (Gn 1,2); o Espírito do Ressuscitado soprado sobre os Apóstolos (Jo 20,22; At 2,2-4), para continuarem a Profecia e a missão da Igreja.
III – O Cordeiro Imolado, Jesus Cristo Redentor, explicita o lema “Oboediens usque ad mortem”.
- Livro do Profeta Isaías 52,13: “Vede! O meu servo prosperará, será exaltado, elevado, e muito sublime.”
- Livro do Profeta Isaías 53,12: “Por isso, vou partilhar muitos com ele, e com os fortes dividirá os despojos, pois entregou à
morte sua própria vida, e foi contado entre os criminosos. Ele, porém, estava carregando os pecados de muitos e agora intercede
pelos transgressores.” - Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 22,37: “Pois eu vos digo: é preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura:
‘Ele foi contado entre os malfeitores. O que foi dito a meu respeito está se consumando’.” - Carta de São Paulo aos Filipenses 2,8: “Obediente até a morte e morte de Cruz.”
- ✓ Obediência (do latim oboedire = escutar com atenção, de OB, “atenção”, +
AUDIRE, “escutar”). Escuta com atenção a Palavra do Pai, faze a vontade do Pai.
Sê livre, sê para… Entrega-te!
✓ Morte (do latim mortem): morte substitutiva (de Cristo), que nos livra da morte
eterna. É o Mistério Fontal: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. É o Mistério
da Páscoa: oblatividade universal: dá a sua vida por todas e todos. Esvaziou-se;
desapegou-se, humilhou-se… Kenosis.
✓ Cruz e Cordeiro em vermelho: pela força do Espírito de Amor, o Martírio: maior
testemunho. Cristo é Fiel até o fim, não para vencer, mas para servir: “Veio para
servir e não ser servido” (Mt 20,28). “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a
si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” (Mt 16,24). (Mística do Chamado).
IV – A Coroa representa Maria: ela é a Rainha do Céu e da Terra porque em primeiro lugar escuta com qualidade a Palavra de Deus e oferece o seu “Faça-se” (Lc 1,38). Maria é a primeira discípula/missionária. Segue seu Filho até a Morte de Cruz! Torna-se nossa Mãe pela solidariedade misericordiosa do Coração de Jesus. A palavra profética que nasce do seu cuidadoso coração é: “fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
V – As doze Estrelas: indicam a totalidade do Povo de Deus ao qual servir. Reunido pelas doze tribos de Israel (Ruben, Simeão, Judá, Zebulão, Isacar, Asher, Neftáli, Efraim, Manassés, Gad, Benjamim e Levi) e, depois, constituído pelos doze Apóstolos (Pedro, Tiago, João, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, Tadeu, Simão) enviados pelo Ressuscitado para a construção de uma “Igreja em saída” (EG 20), proclamadora da Palavra, samaritana, profética e servidora da Obra Redentora do Senhor, em todo o mundo.
VI – O Lírio representa José do Egito: irmão universal (Gn 37,11-28; 41,41ss). Representa acima de tudo José, descendente de Davi, de cuja raiz deveria nascer Jesus (Mt 1,16.20). Portanto, José escolhido e aberto à Palavra de Deus, “sonha os sonhos lindos de Deus” e não hesita em cumprir a Vontade de Deus que o chama: levanta-se e se coloca a caminho para cuidar e proteger a Vida da Mãe e do Filho (Mt 2,13) — as duas preciosidades da nossa fé. É “patris corde” (Papa Francisco): pai amado, de ternura, na obediência, no acolhimento, com coragem criativa, trabalhador, na sombra (silêncio eloquente).
VII – Na Barca de Pedro estão todas e todos os convidados (como os Apóstolos) a acolher a indicação do Senhor de “lançar as redes para as águas mais profundas” (Lc 5,4). Agitada pelos ventos e pelas ondas do mar da vida, essa barca não pode parar de buscar outra margem (sempre outra percepção). Assim, poderá colher, com ousadia e perseverança, a realidade última de cada pessoa, acontecimento, lugar cultural e social, principalmente das multidões mais pobres. A travessia da Igreja é em direção ao Reino da Justiça e da Paz. Daqui
se deduz que temos de dar passos, peregrinar, sem medo no caminho evangelizador, com Profecia e Testemunho, deixando marcas inspiradoras para facilitar a adesão a Cristo.
VIII – Nuvem: o “Lançar as redes” hoje é “entrar na Rede”. Tempos desafiadores de comunicação. De fato, a nuvem na Bíblia significa, tanto no AT quanto no NT, o lugar da auto-comunicação de Deus ao ser humano: por exemplo, “na manhã do terceiro dia…, uma nuvem espessa cobria a montanha…, o Senhor desceu sobre o monte Sinai, e chamou Moisés… (Ex 19, 16.20) e “Da nuvem veio a voz: ‘Este é o meu Filho Amado, Escutai-O’” (Mc 9, 7). Agora, da Nuvem Virtual (ciberespaço) deve ecoar a Palavra para todos que estão conectados, independentemente de raça, sexo, credo, cultura e realidade social. “Tudo está interligado!” (Laudato Sì, 138). O azul do mar é acolhedor
da nossa humanidade peregrina, responsável pela construção artesanal da justiça e da paz: “Vamos precisar de todo mundo: um mais um é sempre mais que dois, a felicidade mora ao lado… Para melhor construir a vida nova, é só repartir melhor o pão.” (Beto Guedes, Sal da Terra).
IX – O semicírculo verde que divide o brasão é habitado ecologicamente pela sonhada Casa Comum, que deve ser cuidada por todos. Recolhedora de energia pura (sustentável), para inspirar a Economia de Francisco e Clara, que prioriza a vida de todos, principalmente dos pobres, três antenas em movimento indicam o ser humano aberto a Deus, capaz de colher também a energia espiritual ininterruptamente — única que permite garantir a Ecologia Integral, da fraternidade e amizade social (Fratelli Tutti, 6).
X – Três montes são indicados na parte superior com as linhas coloridas em vermelho, verde e escuro. O Monte é o lugar da mística (pela ascese e oração, o diálogo salutar com Deus): “Jesus subiu ao monte para rezar” (Mt 14,23). O primeiro monte, em vermelho, alude ao Monte Calvário, onde foi fincada a Cruz de Cristo neste mundo para nos salvar. O segundo monte, escuro, a Serra da Piedade — Magnífica Arquitetura Divina (Jardim de Nossa Senhora da Piedade) — de que devemos cuidar, proteger e não explorar seu minério para abastecer a ganância e o lucro. É Casa Comum de todas e todos, e não fonte de riqueza de alguns poucos. Assim é toda a natureza, indicada pelo terceiro monte, que é o Monte Mário, situado na Serra da Mantiqueira, em Barbacena – MG, referência para o Distrito Rural do Faria, terra natal do bispo.
XI – O dourado que circunda toda a periferia do Brasão indica a opção preferencial pelos pobres e caídos (o ouro da Igreja), reafirmando uma Igreja samaritana e em saída. É o verdadeiro tesouro da Igreja, como menciona São Lourenço, mártir. São os preferidos de Deus e aqueles que foram buscados por Jesus, seja nas periferias das cidades (caídos e esquecidos pelos caminhos), seja nas periferias existenciais da sociedade adoecida pelo preconceito e pela injustiça social. De fato, Deus caminha conosco, luta conosco e não faz acepção
de pessoas (At 10,34).
Fonte: Arquidiocese de Belo Horizonte
Cuidados e cuidadores
A humanidade vive triste flagelo em razão de colapsos nos campos da saúde, da economia e da política, que impedem o início de um novo ciclo civilizatório, evidenciando um grave problema: a generalizada falta de cuidado. É preciso, e urgentemente, revitalizar em cada pessoa, a condição de cuidador, para inspirar uma cidadania qualificada. Se o ser humano não assumir sua condição de cuidador, dificilmente conseguirá debelar pandemias, mudar cenários flagelados por desigualdades sociais e superar situações vergonhosas de exclusão, que geram cenários de guerra quando se consideram as estatísticas de mortos, de famintos e de encarcerados.
O compromisso de cuidar do próximo, que é irmão, se assumido pela humanidade, é alavanca propulsora capaz de tirar a sociedade de seus abismos. Possivelmente, há quem pense que essa constatação é simples inferência romântica, ingênua, com pouca incidência na realidade. Mas desconsiderar a força do cuidado é mais um obstáculo para se alcançar as metas desejadas pela sociedade, traduzidas nos votos repletos de esperança que tanto marcam o início de novo ano civil. O descuido com o próximo e com a Casa Comum comprova o tamanho da crise civilizacional que pesa sobre os ombros da humanidade. Faz a sociedade sofrer com processos de despersonalização, com desperdícios e, particularmente, com a indiferença que mata, pela economia, pela mesquinhez de apegos e por um precário sentido de corresponsabilidade em relação ao outro, que é irmão.
Assim, assiste-se a uma realidade em que inimizades e disputas alimentam almas vorazes que se deleitam com o fracasso alheio. Pobres almas que se apegam à ilusória proteção, pois somente contribuem para consolidar uma humanidade com caraterísticas autofágicas, na contramão de tudo o que os avanços científicos e as conquistas tecnológicas apontam. Sinal evidente dessa humanidade que se autodestrói é a dificuldade de se respeitar normas, a exemplo da recomendação para se usar máscaras, evitar aglomerações e, disciplinarmente, seguir protocolos sanitários, para combater a pandemia da covid-19.
Há, pois, uma carência no sentido de corresponsabilidade que incide no exercício da cidadania, contamina instituições, domina segmentos e obscurece a ação de autoridades – sem força de liderança para articular propostas, intuir estratégias e agir com rapidez para superar a pandemia e outras graves crises. A situação global exige de líderes respostas qualificadas e não permite titubeios – responsáveis também pelo caos social, sanitário e econômico que pesa sobre os ombros de todos, embora alguns, pecaminosamente, lucrem com o sofrimento alheio.
Urgente é despertar e educar a consciência de cada pessoa para que todos assumam a condição de cuidadores. O ponto de partida é a conversão de hábitos políticos, culturais e espirituais, para estabelecer um novo estilo de vida. Trata-se de um movimento civilizacional complexo, exigente, de aprendizagem desafiadora, pois são muitos os hábitos já assimilados, que alimentam pesados riscos. A falta de cuidado com o próximo e com a Casa Comum é estigma consolidado, facilmente identificado em diferentes gestos que revelam indiferença, desperdícios e carência de lucidez. Por isso, avanços na ciência e na tecnologia, que oferecem oportunidades para novos passos civilizacionais, tornam-se oportunidades perdidas, pois processos espirituais e adequado exercício da cidadania, que deveriam ser a regência das mudanças almejadas pela humanidade, permanecem aprisionados nas estreitezas de obscurantismos, polarizações, fechamento ao diálogo. Consequentemente, compromete-se a paz, o desabrochar da cultura. Contenta-se com um “ar viciado”, incapaz de arejar o exercício da cidadania.
Muitas vezes a humanidade parece estar em um “beco sem saída”, pois continuam a aumentar os prejuízos que ameaçam o presente e o futuro. Hoje, é urgente e muito aguardada a vacina capaz de proteger o mundo da covid-19. Mas é igualmente imprescindível que cada pessoa também busque imunizar-se de outro vírus pandêmico: o descuido com a Casa Comum e com o outro, que é irmão e irmã. Todos se tornem cuidadores uns dos outros. O gosto pelo cuidado seja assumido como ethos constitutivo e insubstituível do ser humano. A atitude de cuidar precisa alimentar processos de humanização.
O ponto de partida para tornar-se cuidador é a simplicidade de um princípio cristão de ouro: considerar que o outro é sempre mais importante. Assim, o cuidado com tudo e com todos se torna compromisso cotidiano, inspirando a opção preferencial pelos pobres e a preservação do meio ambiente. E a vestimenta interior de cada ser humano pode se livrar dos rancores e de outros males. Passa a ser tecida com os fios preciosos da solidariedade, que compõem a roupa do verdadeiro cuidador.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Fonte: Arquidiocese de Belo Horizonte
“Menina, levanta-te”
“Menina, levanta-te” é uma expressão forte, vinda do coração que é fonte do amor maior, capaz de resgatar os que se perderam, curar feridas da alma e colocar de pé quem é derrubado pelas circunstâncias da vida. “Menina, levanta-te” é a palavra restauradora pronunciada na casa de Jairo, o pai aflito e zeloso por sua filha. Um zelo exemplar que o impulsiona a buscar o alicerce que recompõe a vida ferida, na história de cada pessoa, pelos descompassos da humanidade. O pai amoroso foi ao encontro de Jesus, à beira-mar, rodeado por uma grande multidão. Vendo o Mestre, caiu-lhe aos pés. Apresentou-lhe, confiante, sua súplica: “Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe as mãos sobre ela para que fique curada e viva!”. A vida de cada filho e filha é a razão maior do amor de Deus. Por isso, Deus oferece o seu filho único amado para a salvação da humanidade. A oferta de Jesus é sacrifício redentor e restaurador do ser humano, constituindo fonte que lava as chagas de cada pessoa, curando-as. Purifica a humanidade do pecado, devolvendo-lhe a inteireza perdida. É prova incontestável que existe um caminho libertador.
Jesus foi acompanhando Jairo – nome que significa “ele brilha”. Nos olhos desse pai, que zela por sua filha, brilha a luz do cuidado. Essa luminosidade o engaja no esforço para conquistar o bem perdido, proteger a vida ameaçada em sua inteireza. Jairo, um coração que, exemplarmente, resplandece o sentido de que o outro é o mais importante e a certeza de que há uma fonte capaz de curar o ser humano. Jesus o acompanhou, ladeado por uma multidão carente do banho dessa luz resplandecente de Jairo. Carente também de confiança na fonte que lava e cura feridas, ergue os decaídos e devolve a integridade necessária para a vida desabrochar-se. A caminho da casa de Jairo – o chefe da Sinagoga – emissários chegam com a impactante notícia: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodas o Mestre?” Deus ouve tudo: tem os ouvidos do amor, sensíveis aos clamores dos pobres e sofredores. Ele se comove e se move até cada pessoa. Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da Sinagoga: “Não tenhas medo, somente crê”.
Entre lamúrias e choro, Jesus entra na casa. Pergunta sobre as razões de tanta agitação e assegura que a menina não havia morrido, apenas dormia. Muitos zombaram Dele. Acontece de se zombar da vida quando se desconsidera a sua sacralidade, perdendo o horizonte que permite reconhecer a grandeza do sentido de viver. Jesus toma consigo, além de alguns discípulos, o pai e a mãe da menina. Entra no lugar onde a criança se encontrava e segura a sua mão. O Mestre diz: “Menina, levanta-te”. A menina o obedece. Levanta-se e começa a andar. O acontecido provoca êxtase e admiração. Brilha de novo a vida e dissipa-se a escuridão. Regenera-se o broto da esperança. O que parecia perdido é retomado e a vida pôde novamente florescer.
Ecoe, menina, no seu coração a força amorosa desta palavra: “Levanta-te!”. Caída sob o peso das adversidades, vai levantar-te exemplarmente para todos os seres humanos. Levantar-te para percorrer seu caminho, desabrochando seus sonhos e edificando a beleza de uma vida que se refaz. Seu viver perpetue um grito-convocação direcionado à sociedade, interpelando-a a cumprir sua missão: resgatar as vítimas, curar os feridos e garantir as necessárias condições para que seja edificada a vida em sua plenitude.
Vidas e vozes: aprendizes
Da vida todos somos aprendizes, pois a riqueza e o sentido do viver não permitem simplismos. Enquanto dom e tarefa, a vida é mistério. Por isso mesmo, não cabe nos limites de legislações, ultrapassa considerações políticas, não havendo abordagem confessional em que se encerre. Impossível esgotar-lhe o sentido, por mais completa que seja a narrativa. E o seu entendimento exige peregrinar às suas raízes, a seus sentidos, aos alicerces.
A vida é mistério, pelas profundezas de suas origens, e fonte, pela profundidade de sentido. Na sua maestria, Jesus a coloca como meta de sua missão, ao dizer: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, conferindo-lhe sacralidade e constituindo a misericórdia como o parâmetro mais alto de seu adequado tratamento. Assim, institui e eleva, para os que n’Ele creem, o valor incomparável da pessoa humana. A vida é, pois, dom que se estende para além das circunstâncias da existência terrena, porque consiste na participação da própria vida em Deus. E a sublimidade própria da vida de cada pessoa revela a grandeza e o valor precioso da vida de toda a humanidade.
O evangelho da vida acena com a condição de aprendizes a todos os que têm a vida como dom e tarefa. Sua preciosidade se manifesta, de modo completo, na encarnação do filho de Deus, ao aceitar a morte na cruz, pelo resgate de todos. Firma-se, assim, entre Deus e a humanidade, o compromisso inarredável de defender a vida de todas as ameaças, em todas as suas etapas. Compromisso que deve se fortalecer neste tempo de impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida humana, a nações inteiras, particularmente aos indefesos e vulneráveis. São muitas as chagas expostas que atentam contra a vida, a exemplo da fome, da miséria, das epidemias, das guerras, de feridas com modalidades inéditas e inquietantes. Crescem as formas aviltantes de violências. Frutos de preconceitos e racismos, ferem particularmente os mais fragilizados e os excluídos, apontando a urgência de se rever as legislações no sentido de impedir que se chegue a absurdos ainda maiores. O panorama dos diferentes atentados à vida desafia a sociedade contemporânea a encontrar novas respostas e a confeccionar um tecido consistente, capaz de operar as mudanças necessárias nos vergonhosos cenários marcados pelos extermínios, pela eliminação de vidas.
O desafio é posicionar-se ante todos esses atentados, ante um contexto cultural que confere aos crimes contra a vida aspectos inéditos e iníquos. A partir das graves preocupações advindas da própria opinião pública, tenta-se justificar a liberdade individual de escolhas e procedimentos que atentam contra a sacralidade da vida. O desafio se torna ainda maior quando se constatam profundas alterações na maneira de considerar a vida, a vida de todos, e as relações entre as pessoas. Há, pois, nítido processo de afastamento dos princípios basilares, como causa de uma derrocada moral, dificultando o necessário retorno às fontes de inspiração e de clarividência em torno da sacralidade das vidas todas. E sem referências e princípios, as abordagens ocorrem no burburinho de vozes da turba. Compromete-se, assim, a qualidade do que se escolhe, do que se legisla, do que se sente, e as consequências são notórias: a vida passa a ser tratada por alas, por interesses, por disputas e até pelo oportunismos de se fazer reconhecido; por interesses político-partidários, além das razões extremistas e fundamentalistas – todas distanciadas do inegociável.
As vozes se tornam opiniões próprias, de lugares hermenêuticos contaminados, com dificuldade de se perceber qual é o verdadeiro sentido, por não se saber retornar à fonte. Também por falta de traquejo de lidar com princípios, nota-se um silêncio sepulcral e omisso. Muitos não dizem nada por receio, porque se promovem em meio às vozes. Tudo se reduz a uma formulação prosaica. São muitas vozes e muitas contradições: a voz em defesa de algo ou de alguém é a voz que ao mesmo tempo pisa a honra e fere a dignidade do outro, com o descalabro interesseiro de anatematizar um e canonizar outro. Anatematiza quem parece ser uma voz diferente, desconhecendo sua compreensão e desconsiderando uma vida de feitos e comprometimentos. Canoniza até mesmo quem ainda é neófito, inexperiente, e apresenta argumentos equivocados.
Do mesmo modo que a fé se torna estéril, quando não consegue ser uma experiência de testemunho transformador, esterilidades se perpetram em vozes cujos sons não ecoam o que, cotidianamente, tem que se buscar na fonte-princípio. Os pitagóricos diziam que o princípio é a metade do todo. Se falta esta primeira metade, na tarefa de construção de um novo tecido social, cultural e político, com resultados efetivos sobre leis, costumes e estilos de vida, faltará a base para a segunda metade. Vozes serão muitas, como neste tempo de um coro dissonante, que exige dos aprendizes investimento em harmonias. E, assim, participem do coro dos lúcidos, cada vez mais, vozes coerentes e propositivas, capazes de imprimir as grandes mudanças neste tempo que precisa ser urgentemente novo para se promover e salvar vidas.
Consenso e disceptação
Dinâmicas que envolvem a disceptação e o consenso marcam o caminho da humanidade – são indissociáveis nas relações institucionais e interpessoais. É preciso, pois, ter a sabedoria para arquitetar o consenso administrando as divergências. A disceptação sinaliza a arte da convivência com diferenças e diversidades, uma característica das sociedades complexas neste mundo contemporâneo. A divergência, enquanto fenômeno social, é indispensável, inclusive para superar as dissensões. Por isso, ao arquitetar consensos é fundamental suportar o confronto de posicionamentos que podem ser até opostos. Importante lembrar: para se chegar ao entendimento, deve haver fidelidade a valores intocáveis, a exemplo do necessário respeito a quem tem perspectiva divergente.
Renunciar à disceptação, em qualquer processo de escolha, decisão ou definição é um equívoco. O consenso não é sinônimo de unanimidade e menos ainda de uniformização. Ao invés disso, trata-se da articulação das diferenças, gerando uma riqueza a partir da administração inteligente e respeitosa de confrontos. Assim deve ocorrer no ambiente acadêmico, nas articulações políticas, na configuração hermenêutica da prática judiciária, nos contextos religiosos e até mesmo no ambiente doméstico. A disceptação, é oportuno lembrar, se fez presente no início do cristianismo e gerou a primeira assembleia da Igreja, narrada pelo evangelista Lucas nos Atos dos Apóstolos. Nessa assembleia, se construiu um consenso que determinou rumos novos na expansão do cristianismo nascente. Também é importante se recordar do apóstolo Paulo que, no areópago de Atenas, estabeleceu um confronto com seus interlocutores para levá-los a novos entendimentos. A meta era conduzi-los rumo à compreensão mais enriquecida a respeito da religiosidade.
Consensos nascem de articulada administração dos confrontos de opiniões, ideias e compreensões. Assim são estabelecidos os tratados de paz, elaboradas as cartas magnas constitucionais, definidas legislações e prioridades, reconfigurados costumes e hábitos. Não menos complexos são os embates inerentes ao exercício da cidadania e da vivência da fé. Uma sociedade participativa e democrática só se sustenta pela prática dos confrontos de opiniões com o objetivo de buscar convergência para formar o consenso. O respeito a princípios intocáveis e a reverência a valores inegociáveis constituem regra de ouro nesse processo. Esses princípios e valores têm força para não deixar ruir a arquitetura dos entendimentos.
Sabe-se do grande risco que se corre, na administração de confrontos, quando prevalece a rigidez. A rigidez revela falta de equilíbrio emocional para lidar com embates e discordâncias. A contemporaneidade, em contraposição aos avanços tecnológicos e científicos, tem sido palco de intolerâncias e de polarizações até patológicas em razão da rigidez. Isso se revela na incapacidade para o diálogo, que exige o respeito às diferenças e a busca pela harmonia, condições necessárias à construção de entendimentos. Não se estabelece consensos sem discordâncias – e não se administra a disceptação sem reconhecer e respeitar as divergências.
Pode até ser mais cômodo partidarizar-se, se fixar em determinado extremo, do que criticamente posicionar-se diante de tema importante. Mas os resultados serão sempre comprometidos, pois é atitude que estimula a intolerância e revela pouca competência para discernimentos. Sociedades, instituições ou grupos que não investirem na competência humana e espiritual para suportar confrontos e se enriquecer a partir das divergências perderão força. Pela fraqueza de seus integrantes, permanecerão incapazes de curar suas feridas, livrar-se de suas evidentes fragilidades e encontrar respostas adequadas para seus desafios. O consenso nunca será fruto do pensamento uniformizador, mas do diálogo em busca da verdade. É hora de superar a incompetência para lidar com confrontos, caminho para se alcançar consensos.
Inteligência do coração
Paira no ar a interrogação sobre o nascimento de uma nova época. Isso porque se vive um tempo de mudanças e de muitas crises – algumas antigas, outras mais recentes, a exemplo desta pandemia da covid-19. De fato, pode estar nascendo um novo ciclo, com transformações locais e globais. É preciso, pois, viver adequadamente este tempo, para que não se percam oportunidades. Os diferentes acontecimentos que afetam o planeta exigem da humanidade superar estreitas mentalidades e equivocadas visões sobre o mundo. Não se pode perder a chance de conduzir o planeta em novos trilhos: a vida é permanentemente ameaçada pelas incompetências humanísticas.
São urgentes os investimentos que capacitem, com maior velocidade, agentes para atuar na condução de diferentes processos, superando práticas e ações já antiquadas, inclusive nos contextos da política e da religiosidade. É necessário se adequar para estar em sintonia e oferecer respostas às muitas exigências e necessidades do mundo atual. Por isso mesmo, é preocupante o risco de se transitar na contramão do caminho que leva a um futuro melhor. Há uma tendência a repetições e rigidez, sustentadas por motivações injustificáveis neste momento crucial da humanidade. Vale investir em novos critérios de leitura e análise da realidade, com incidências na definição de metas – pessoais e institucionais – para que sejam efetivados os avanços possíveis nesta etapa da história. No processo de definição desses novos critérios para se relacionar com o mundo, oportuno é ter em vista uma contundente constatação do Papa Francisco: o risco demolidor da “autorreferencialidade”.
Pessoas autorreferenciais sofrem de miopias, não conseguem enxergar nem mesmo o que é evidente. São incapazes de reconhecer a realidade e, por isso, levam os contextos institucionais a prejuízos. No exercício de suas funções, essas pessoas dedicam-se a manipular instituições equivocadamente, incapacitando-as para o adequado serviço à sociedade. A promoção de serviços nos contextos social, cultural e político deixa de ser a meta principal. São indivíduos que buscam usufruir da instituição, egoisticamente. Setores religiosos, educacionais, empresariais e outros segmentos correm o risco desastroso de serem contaminados pelo mal da autorreferencialidade, com danos que repercutem na dimensão global da sociedade. Também prejudicial na condução de processos, com efeitos deletérios, é um tipo de intelectualismo que se apresenta como hegemônico, mas não consegue ir além de simples repetição ou da formulação de conceitos, sem propor algo novo. No conjunto de disjunções que incidem sobre a humanidade, constata-se, pois, uma necessidade urgente: investir na inteligência do coração.
O mundo com suas transformações e acontecimentos complexos exige do ser humano novas intuições, emolduradas a partir de análises consistentes. Assim é possível escrever nova página na história com respostas às demandas da humanidade. Existem muitas reflexões propostas por diferentes áreas do saber, mas ainda há certo distanciamento de um núcleo capaz de fecundar intuições: a inteligência do coração. A indiferença em relação ao sofrimento do próximo, que é irmão, a frieza nas relações, a mesquinhez que se revela no apego aos esquemas e às comodidades, são sinais do distanciamento dessa rica fonte de intuições.
A inteligência do coração chama-se compaixão. Ela alimenta a solidariedade, ilumina o olhar que sempre alcança o pobre, sensibiliza a intuição e permite escolher o que é bom para todos. Uma virtude que possibilita descobrir lógicas para além dos cálculos. Oportuno lembrar uma passagem evangélica, quando Jesus, arrodeado por multidão, depois de ter feito milagres, agiu em contraposição ao modo de pensar dos seus discípulos. Os mais próximos de Jesus, vendo que as muitas pessoas ali reunidas estavam com fome e sem ter grande quantidade de alimento para distribuir, sugeriram ao Mestre que era necessário dispersá-las. Jesus, sem ainda realizar o milagre da multiplicação de pães, a partir de seu coração, interpelou seus discípulos com um pedido, convocando-os e a cada pessoa para o exercício da solidariedade: “Sinto compaixão desse povo… dai-lhes vós mesmos de comer.”