Ato Penitencial
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Retomando as catequeses sobre a celebração eucarística, consideremos hoje, no contexto dos ritos de introdução, o ato penitencial. Na sua sobriedade, ele favorece a atitude com a qual se dispor para celebrar dignamente os santos mistérios, ou seja, reconhecendo diante de Deus e dos irmãos os nossos pecados, reconhecendo que somos pecadores. Com efeito, o convite do sacerdote é dirigido a toda a comunidade em oração, porque todos somos pecadores. O que pode dar o Senhor a quem já tem o coração cheio de si, do próprio sucesso? Nada, porque o presunçoso é incapaz de receber o perdão, satisfeito como está da sua presumível justiça. Pensemos na parábola do fariseu e do publicano, onde somente o segundo — o publicano — volta para casa justificado, ou seja, perdoado (cf. Lc 18, 9-14). Quem está ciente das próprias misérias e abaixa o olhar com humildade, sente pousar sobre si o olhar misericordioso de Deus. Sabemos por experiência que só quantos sabem reconhecer os erros e pedir desculpa recebem a compreensão e o perdão dos outros.
Ouvir em silêncio a voz da consciência permite reconhecer que os nossos pensamentos estão distantes dos pensamentos divinos, que as nossas palavras e as nossas ações são muitas vezes mundanas, isto é, guiadas por escolhas contrárias ao Evangelho. Por isso, no início da Missa, realizamos comunitariamente o ato penitencial mediante uma fórmula de confissão geral, pronunciada na primeira pessoa do singular. Cada um confessa a Deus e aos irmãos “que pecou muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e omissões”. Sim, também por omissões, ou seja, que deixei de praticar o bem que poderia ter feito. Sentimo-nos muitas vezes bons porque — dizemos — “não fiz mal a ninguém”. Na realidade, não é suficiente não praticar o mal contra o próximo, mas é necessário escolher fazer o bem aproveitando as ocasiões para dar bom testemunho de que somos discípulos de Jesus. É bom frisar que confessamos tanto a Deus como aos irmãos, que somos pecadores: isto ajuda-nos a compreender a dimensão do pecado que, enquanto nos separa de Deus, também nos divide dos nossos irmãos, e vice-versa. O pecado corta: corta a relação com Deus e com os irmãos, corta a relação na família, na sociedade e na comunidade: o pecado corta sempre, separa, divide.
As palavras que proferimos com os lábios são acompanhadas pelo gesto de bater no peito, reconhecendo que pequei precisamente por minha culpa, e não por culpa de outros. Com efeito, muitas vezes acontece que, por medo ou vergonha, aponto o dedo para acusar o próximo. Custa-nos admitir que somos culpados, mas faz-nos bem confessá-lo com sinceridade. Confessar os próprios pecados. Recordo-me de uma história, narrada por um missionário idoso, de uma mulher que foi confessar-se e começou a falar dos erros do marido; depois, passou a contar os erros da sogra e em seguida os pecados dos vizinhos. A um certo ponto, o confessor disse-lhe: “Mas senhora, diga-me: acabou? — Muito bem: acabou com os pecados dos outros. Agora comece a dizer os seus”. Dizer os próprios pecados!
Depois da confissão do pecado, suplicamos a Bem-Aventurada Virgem Maria, os Anjos e os Santos para que intercedam junto do Senhor por nós. Também nisto é preciosa a comunhão dos Santos: ou seja, a intercessão destes «amigos e modelos de vida» (Prefácio de 1 de novembro) sustém-nos no caminho rumo à plena comunhão com Deus, quando o pecado será aniquilado definitivamente.
Além do “Confesso”, podemos fazer o ato penitencial com outras fórmulas, por exemplo: «Piedade de nós, Senhor / Contra Vós pecamos. / Mostrai-nos, Senhor a vossa misericórdia. / E concedei-nos a vossa salvação» (cf. Sl 123, 3; 85, 8; Jr 14, 20). Especialmente aos domingos podemos fazer a bênção e a aspersão da água em memória do Batismo (cf. OGMR, 51), que cancela todos os pecados. Como parte do ato penitencial, também é possível cantar o Kyrie eleison: com esta antiga expressão grega, aclamamos o Senhor — Kyrios — e imploramos a sua misericórdia (ibid., 52).
A Sagrada Escritura oferece-nos luminosos exemplos de figuras “penitentes” que, caindo em si mesmas depois de terem cometido o pecado, encontram a coragem de tirar a máscara e abrir-se à graça que renova o coração. Pensemos no rei David e nas palavras a ele atribuídas no Salmo: «Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade da vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade» (51 [50], 3). Pensemos no filho pródigo que regressa ao pai; ou na invocação do publicano: «Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!» (Lc 18, 13). Pensemos inclusive em São Pedro, em Zaqueu, na samaritana. Medir-se com a fragilidade do barro com que somos amassados é uma experiência que nos fortalece: enquanto nos leva a confrontar-mos com a nossa debilidade, abre-nos o coração para invocar a misericórdia divina que transforma e converte. E é isto que fazemos no ato penitencial, no início da Missa.
Papa Francisco
Fonte: Vaticano
As partes da Santa Missa
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de entrar no vivo da celebração eucarística. A Missa é composta por duas partes, que são a Liturgia da Palavra e a Liturgia eucarística, tão estreitamente unidas entre si, a ponto de formar um único ato de culto (cf. Sacrosanctum concilium, 56; Ordenamento Geral do Missal Romano, 28). Portanto, introduzida por alguns ritos preparatórios e concluída por outros, a celebração é um único corpo e que não se pode separar, mas para uma melhor compreensão procurarei explicar os seus vários momentos, cada um dos quais é capaz de tocar e abranger uma dimensão da nossa humanidade. É necessário conhecer estes santos sinais para viver plenamente a Missa e apreciar toda a sua beleza.
Quando o povo está reunido, a celebração abre-se com os ritos introdutórios, que incluem a entrada dos celebrantes ou do celebrante, a saudação — “O Senhor esteja convosco”, “A paz esteja convosco” — o ato penitencial — “Confesso”, no qual nós pedimos perdão pelos nossos pecados — o Kyrie eleison, o hino do Glória e a oração da coleta: chama-se “oração da coleta” não porque ali se faz a coleta das ofertas: é a coleta das intenções de oração de todos os povos; e aquela coleta da intenção dos povos eleva-se ao céu como prece. A sua finalidade — destes ritos introdutórios — é fazer com «que os fiéis reunidos formem uma comunidade e se predisponham a ouvir com fé a palavra de Deus e a celebrar dignamente a Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 46). Não é um bom hábito olhar para o relógio e dizer: “Estou a tempo, chego depois do sermão e assim cumpro o preceito”. A Missa começa com o sinal da cruz, com estes ritos introdutórios, porque ali começamos a adorar Deus como comunidade. E por isso é importante procurar não chegar atrasado mas, ao contrário, antecipadamente, a fim de preparar o coração para este rito, para esta celebração da comunidade.
Geralmente, enquanto se executa o cântico de entrada, o sacerdote com os outros ministros chega processionalmente ao presbitério, e aqui saúda o altar com uma inclinação e, em sinal de veneração, beija-o e, quando há incenso, incensa-o. Porquê? Porque o altar é Cristo: é figura de Cristo. Quando fitamos o altar, olhamos precisamente para onde está Cristo. O altar é Cristo. Estes gestos, que correm o risco de passar despercebidos, são muito significativos, porque exprimem desde o início que a Missa é um encontro de amor com Cristo o qual , «oferecendo o seu corpo na cruz […] se tornou altar, vítima e sacerdote» (Prefácio pascal V). Com efeito, sendo sinal de Cristo, o altar «é o centro da ação de graças que se realiza com a Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 296), e toda a comunidade em volta do altar, que é Cristo; não para olhar na cara, mas para fitar Cristo, porque Cristo está no centro da comunidade e não longe dela.
Depois há o sinal da cruz. O sacerdote que preside faz o sinal e de igual modo o fazem todos os membros da assembleia, conscientes de que o ato litúrgico se realiza «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». E aqui passo para outro tema muito pequeno. Vistes como as crianças fazem o sinal da cruz? Não sabem o que fazem: às vezes fazem um desenho, que não é o sinal da cruz. Por favor: mãe e pai, avós, ensinai às crianças, desde o início — desde pequeninos — a fazer bem o sinal da cruz. E explicai-lhes que significa ter a cruz de Jesus como proteção. E a Missa começa com o sinal da cruz. A oração inteira move-se, por assim dizer, no espaço da Santíssima Trindade — “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” — que é espaço de comunhão infinita; tem como origem e fim o amor de Deus Uno e Trino, manifestado e doado a nós na Cruz de Cristo. Com efeito, o seu mistério pascal é dom da Trindade, e a Eucaristia brota sempre do seu Coração trespassado. Portanto, fazendo o sinal da cruz, não só recordamos o nosso Batismo, mas afirmamos que a prece litúrgica é o encontro com Deus em Jesus Cristo, que por nós se encarnou, morreu na cruz e ressuscitou glorioso.
Em seguida, o sacerdote dirige a saudação litúrgica, com a expressão: «O Senhor esteja convosco», ou outra semelhante — existem diversas — e a assembleia responde: «E com o teu espírito». Estamos em diálogo; estamos no início da Missa e temos que pensar no significado de todos estes gestos e palavras. Entramos numa “sinfonia”, na qual ressoam vários tons de vozes, e inclusive momentos de silêncio, em vista de criar o “acordo” entre todos os participantes, ou seja, de nos reconhecermos animados por um único Espírito e por um mesmo fim. Com efeito, «a saudação sacerdotal e a resposta do povo manifestam o mistério da Igreja congregada» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 50). Exprime-se assim a fé comum e o desejo recíproco de estar com o Senhor e de viver a unidade com a humanidade inteira.
Esta é uma sinfonia orante, que se vai criando e apresenta imediatamente um momento muito comovedor, pois quem preside convida todos a reconhecer os próprios pecados. Todos somos pecadores. Não sei, talvez algum de vós não seja pecador… Se alguém não é pecador, levante a mão, por favor, assim todos veremos. Mas não há mãos levantadas, está bem: tendes uma boa fé! Todos somos pecadores; é por isso que no início da Missa pedimos perdão. É o ato penitencial. Não se trata apenas de pensar nos pecados cometidos, mas muito mais: é o convite a confessar-nos pecadores diante de Deus e da comunidade, perante os irmãos, com humildade e sinceridade, como o publicado no templo. Se verdadeiramente a Eucaristia torna presente o Mistério pascal, ou seja, a passagem de Cristo da morte para a vida, então a primeira coisa que devemos fazer é reconhecer quais são as nossas situações de morte para poder ressuscitar com Ele para a nova vida. Isto leva-nos a compreender como é importante o ato penitencial. E por isso retomaremos este tema na próxima catequese.
Vamos passo a passo na explicação da Missa. Mas recomendo-vos: por favor, ensinai bem as crianças a fazer o sinal da cruz!
Papa Francisco
Fonte: Vaticano
Por que ir à Missa aos domingos?
Bom dia, prezados irmãos e irmãs!
Retomando o caminho de catequeses sobre a Missa, hoje perguntemo-nos: por que ir à Missa aos domingos?
A celebração dominical da Eucaristia está no centro da vida da Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2177). Nós, cristãos, vamos à Missa aos domingos para encontrar o Senhor Ressuscitado, ou melhor, para nos deixarmos encontrar por Ele, ouvir a sua palavra, alimentar-nos à sua mesa e assim tornar-nos Igreja, isto é, seu Corpo místico vivo no mundo.
Compreenderam isto, desde o princípio, os discípulos de Jesus, que celebraram o encontro eucarístico com o Senhor no dia da semana ao qual os judeus chamavam “o primeiro da semana” e os romanos “dia do sol”, porque naquele dia Jesus tinha ressuscitado dos mortos e aparecido aos discípulos, falando com eles, comendo com eles, concedendo-lhes o Espírito Santo (cf. Mt 28, 1; Mc 16, 9.14; Lc 24, 1.13; Jo 20, 1.19), como ouvimos na Leitura bíblica. Também a grande efusão do Espírito no Pentecostes teve lugar no domingo, cinquenta dias depois da Ressurreição de Jesus. Por estas razões, o domingo é um dia santo para nós, santificado pela celebração eucarística, presença viva do Senhor entre nós e para nós. Portanto, é a Missa que faz o domingo cristão! O domingo cristão gira em volta da Missa. Que domingo é, para o cristão, aquele no qual falta o encontro com o Senhor?
Existem comunidades cristãs que, infelizmente, não podem beneficiar da Missa todos os domingos; no entanto, também elas, neste dia santo, são chamadas a recolher-se em oração em nome do Senhor, ouvindo a Palavra de Deus e mantendo vivo o desejo da Eucaristia.
Algumas sociedades secularizadas perderam o sentido cristão do domingo iluminado pela Eucaristia. Isto é pecado! Em tais contextos é preciso reavivar esta consciência, para recuperar o significado da festa, o significado da alegria, da comunidade paroquial, da solidariedade e do descanso que revigora a alma e o corpo (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 2177-2188). De todos estes valores a Eucaristia é a nossa mestra, domingo após domingo. Por isso, o Concílio Vaticano II quis reiterar que «o domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso, da abstenção do trabalho» (Const. Sacrosanctum concilium, 106).
A abstenção dominical do trabalho não existia nos primeiros séculos: é uma contribuição específica do cristianismo. Por tradição bíblica, os judeus descansam no sábado, enquanto na sociedade romana não estava previsto um dia semanal de abstenção dos trabalhos servis. Foi o sentido cristão do viver como filhos e não como escravos, animado pela Eucaristia, que fez do domingo — quase universalmente — o dia do descanso.
Sem Cristo estamos condenados a ser dominados pelo cansaço do dia a dia, com as suas preocupações, e pelo medo do amanhã. O encontro dominical com o Senhor dá-nos a força para viver o presente com confiança e coragem, e para progredir com esperança. Por isso nós, cristãos, vamos encontrar-nos com o Senhor aos domingos, na celebração eucarística.
A Comunhão eucarística com Jesus, Ressuscitado e Vivo eternamente, antecipa o Domingo sem ocaso, quando já não haverá cansaço nem dor, nem luto, nem lágrimas, mas só a alegria de viver plenamente e para sempre com o Senhor. Inclusive sobre este abençoado descanso nos fala a Missa dominical, ensinando-nos, no decorrer da semana, a confiar-nos nas mãos do Pai que está no Céu.
Como podemos responder a quem diz que não é preciso ir à Missa, nem sequer aos domingos, porque o importante é viver bem, amar o próximo? É verdade que a qualidade da vida cristã se mede pela capacidade de amar, como disse Jesus: «Disto todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35); mas como podemos praticar o Evangelho sem haurir a energia necessária para o fazer, um domingo após o outro, na fonte inesgotável da Eucaristia? Não vamos à Missa para oferecer algo a Deus, mas para receber dele aquilo de que verdadeiramente temos necessidade. Recorda-o a oração da Igreja, que assim se dirige a Deus: «Tu não precisas do nosso louvor, mas por um dom do teu amor chamas-nos a dar-te graças; os nossos hinos de bênção não aumentam a tua grandeza, mas obtém para nós a graça que nos salva» (Missal Romano, Prefácio comum IV).
Em síntese, por que ir à Missa aos domingos? Não é suficiente responder que é um preceito da Igreja; isto ajuda a preservar o seu valor, mas sozinho não basta. Nós, cristãos, temos necessidade de participar na Missa dominical, porque só com a graça de Jesus, com a sua presença viva em nós e entre nós, podemos pôr em prática o seu mandamento, e assim ser suas testemunhas credíveis.
Papa Francisco
Fonte: Vaticano
A Missa é o memorial do Mistério pascal de Cristo
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguindo as Catequeses sobre a Missa, podemos questionar-nos: o que é essencialmente a Missa? A Missa é o memorial do Mistério pascal de Cristo. Ela torna-nos partícipes da sua vitória sobre o pecado e a morte, e confere pleno significado à nossa vida.
Por esta razão, a fim de compreender o valor da Missa devemos então entender em primeiro lugar o significado bíblico do “memorial”. Ele «não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas… tornam-se de certo modo presentes e actuais. É assim que Israel entende a sua libertação do Egito: sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que conformem com eles a sua vida» (Catecismo da Igreja Católica, 1363). Jesus Cristo, com a sua paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu levou a cumprimento a Páscoa. E a Missa é o memorial da sua Páscoa, do seu “êxodo”, que cumpriu por nós, para nos fazer sair da escravidão e nos introduzir na terra prometida da vida eterna. Não é somente uma lembrança, não, é mais do que isso: significa evocar o que aconteceu há vinte séculos.
A Eucaristia leva-nos sempre ao ápice da ação de salvação de Deus: o Senhor Jesus, tornando-se pão partido para nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e o seu amor, como fez na cruz, de modo a renovar o nosso coração, a nossa existência e a nossa forma de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. O Concílio Vaticano II afirma: «Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, realiza-se também a obra da nossa redenção» (Cost. dogm. Lumen gentium, 3).
Cada celebração da Eucaristia é um raio daquele sol sem ocaso que é Jesus ressuscitado. Participar na Missa, em particular aos domingos, significa entrar na vitória do Ressuscitado, ser iluminados pela sua luz, abrasados pelo seu calor. Através da celebração eucarística o Espírito Santo torna-nos partícipes da vida divina que é capaz de transfigurar todo o nosso ser mortal. E na sua passagem da morte para a vida, do tempo para a eternidade, o Senhor Jesus arrasta também a nós com Ele para fazer a Páscoa. Na Missa faz-se a Pascoa. Nós, na Missa, estamos com Jesus, morto e ressuscitado e Ele arrasta-nos em frente, para a vida eterna. Na Missa unimo-nos a Ele. Aliás, Cristo vive em nós e nós vivemos n’Ele: «Estou crucificado com Cristo — diz Paulo — , já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim» (Gl 2, 19-20). Paulo pensava desta forma.
Com efeito, o seu sangue liberta-nos da morte e do medo da morte. Liberta-nos não só do domínio da morte física, mas da morte espiritual que é o mal, o pecado, que se apodera de nós todas as vezes que somos vítimas do pecado nosso e alheio. E então a nossa vida é contaminada, perde beleza, perde significado, desflorece.
Ao contrário, Cristo restitui-nos a vida; Cristo é a plenitude da vida, e quando enfrentou a morte aniquilou-a para sempre: «ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou vida», confessa a Igreja celebrando a Eucaristia (Oração eucarística IV). A Páscoa de Cristo é a vitória definitiva sobre a morte, porque Ele transformou a sua morte em ato supremo de amor. Morreu por amor! E na Eucaristia, Ele quer comunicar-nos este seu amor pascal, vitorioso. Se o recebermos com fé, também nós podemos amar verdadeiramente a Deus e ao próximo, podemos amar como Ele nos amou, oferecendo a vida.
Se o amor de Cristo estiver em mim, posso doar-me plenamente ao outro, na certeza interior que mesmo se o outro me ferir eu não morrerei; caso contrário, teria que me defender. Os mártires ofereceram a própria vida devido a esta certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Só se experimentarmos este poder de Cristo, o poder do seu amor, seremos realmente livres de nos doarmos sem medo. É este o significado da Missa: entrar nesta paixão, morte, ressurreição, ascensão de Jesus; quando vamos à Missa é como se fôssemos ao calvário, a mesma coisa. Mas pensai: no momento da Missa vamos ao calvário — usemos a imaginação — e sabemos que aquele homem ali é Jesus. Mas, será que nos permitiríamos conversar, tirar fotografias, dar um pouco de espetáculo? Não! Porque é Jesus! Certamente estaríamos em silêncio, no pranto e também na alegria de sermos salvos. Quando entramos na Igreja para celebrar a Missa pensemos nisto: entro no calvário, onde Jesus oferece a sua vida por mim. E assim desaparece o espetáculo, desaparecem as tagarelices, os comentários e estas coisas que nos afastam de algo tão bonito que é a Missa, o triunfo de Jesus.
Penso que agora é mais claro que a Páscoa se torna presente e ativa todas as vezes que celebramos a Missa, ou seja, o sentido do memorial. A participação na Eucaristia faz-nos entrar no mistério pascal de Cristo, concedendo-nos a oportunidade de passar com Ele da morte para a vida, ou seja, no calvário. A Missa significa repercorrer o calvário, não é um espetáculo.
Papa Francisco
Fonte: Vatican
A Missa é oração
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Continuamos com as catequeses sobre a Santa Missa. Para compreender a beleza da celebração eucarística desejo iniciar com um aspeto muito simples: a Missa é oração, aliás, é a oração por excelência, a mais elevada, a mais sublime, e ao mesmo tempo a mais “concreta”. Com efeito é o encontro de amor com Deus mediante a sua Palavra e o Corpo e Sangue de Jesus. É um encontro com o Senhor.
Mas primeiro temos que responder a uma pergunta. O que é realmente a oração? Antes de tudo, ela é diálogo, relação pessoal com Deus. E o homem foi criado como ser em relação pessoal com Deus que tem a sua plena realização unicamente no encontro com o seu Criador. O caminho da vida é rumo ao encontro definitivo com o Senhor.
O Livro do Génesis afirma que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, o qual é Pai e Filho e Espírito Santo, uma relação perfeita de amor que é unidade. Disto podemos compreender que todos nós fomos criados para entrar numa relação perfeita de amor, num contínuo doar-nos e receber-nos para assim podermos encontrar a plenitude do nosso ser.
Quando Moisés, diante da sarça ardente, recebeu a chamada de Deus, perguntou-lhe qual era o seu nome. E o que respondeu Deus? «Eu sou Aquele que sou» (Êx 3, 14). Esta expressão, no seu sentido originário, manifesta presença e favor, e com efeito imediatamente a seguir Deus acrescenta: «O Senhor, o Deus dos vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacob» (v. 15). Assim também Cristo, quando chama os seus discípulos, os chama para que estejam com Ele. Eis, por conseguinte, a maior graça: poder experimentar que a Missa, a Eucaristia é o momento privilegiado para estar com Jesus e, através d’Ele, com Deus e com os irmãos.
Rezar, como qualquer diálogo verdadeiro, significa saber também ficar em silêncio — nos diálogos há momentos de silêncio — em silêncio juntamente com Jesus. E quando vamos à Missa, talvez cheguemos cinco minutos antes e comecemos a falar com quem está ao nosso lado. Mas não é o momento para falar: é o momento do silêncio a fim de nos prepararmos para o diálogo. É o momento de se recolher no coração a fim de se preparar para o encontro com Jesus. O silêncio é tão importante! Recordai-vos do que disse na semana passada: não vamos a um espetáculo, vamos ao encontro com o Senhor e o silêncio prepara-nos e acompanha-nos. Permanecer em silêncio juntamente com Jesus. E do misterioso silêncio de Deus brota a sua Palavra que ressoa no nosso coração. O próprio Jesus nos ensina como é possível “estar” realmente com o Pai e no-lo demonstra com a sua oração. Os Evangelhos mostram-nos Jesus que se retira em lugares afastados para rezar; os discípulos, ao ver esta sua relação íntima com o Pai, sentem o desejo de poder participar nela, e pedem-lhe: «Senhor, ensina-nos a rezar» (Lc 11, 1). Assim ouvimos há pouco, na primeira Leitura, no início da audiência. Jesus responde que a primeira coisa necessária para rezar é saber dizer “Pai”. Estejamos atentos: se eu não for capaz de dizer “Pai” a Deus, não sou capaz de rezar. Temos que aprender a dizer “Pai”, ou seja, de nos pormos na sua presença com confiança filial. Mas a fim de poder aprender, é preciso reconhecer humildemente que precisamos de ser instruídos, e dizer com simplicidade: Senhor, ensina-me a rezar.
Este é o primeiro ponto: ser humildes, reconhecer-se filhos, repousar no Pai, confiar n’Ele. Para entrar no Reino dos céus é necessário fazer-se pequeninos como as crianças. No sentido de que as crianças sabem confiar, sabem que alguém se preocupará com elas, com o que hão de comer, com o que vestirão e assim por diante (cf. Mt 6, 25-32). Esta é a primeira atitude: confiança e confidência, como a criança com os pais; saber que Deus se recorda de ti, cuida de ti, de ti, de mim, de todos.
A segunda predisposição, também ela própria das crianças, é deixar-se surpreender. A criança faz sempre muitas perguntas porque deseja descobrir o mundo; e admira-se até com coisas pequenas porque para ela tudo é novo. Para entrar no Reino dos céus é preciso deixar-se surpreender. Na nossa relação com o Senhor, na oração — eu pergunto — deixamo-nos surpreender ou pensamos que a oração é falar a Deus como fazem os papagaios? Não, é confiar e abrir o coração para se deixar surpreender. Deixamo-nos maravilhar por Deus que é sempre o Deus das surpresas? Porque o encontro com o Senhor é sempre um encontro vivo, não é um encontro de museu. É um encontro vivo e nós vamos à Missa e não a um museu. Vamos a um encontro vivo com o Senhor.
No Evangelho fala-se de um certo Nicodemos (cf. Jo 3, 1-21), um idoso, uma autoridade em Israel, que vai procurar Jesus para o conhecer; e o Senhor fala-lhe da necessidade de “renascer do alto” (cf. v. 3). Mas que significa isto? Pode-se “renascer”? Voltar a ter o gosto, a alegria, a maravilha da vida, é possível, mesmo face a tantas tragédias? Esta é uma pergunta fundamental da nossa fé e este é o desejo de qualquer crente verdadeiro: o desejo de renascer, a alegria de recomeçar. Nós temos este desejo? Cada um de nós tem vontade de renascer sempre para se encontrar com o Senhor? Tendes este desejo? Com efeito, pode-se perdê-lo facilmente porque, por causa de tantas atividades, de tantos projetos a concretizar, no final temos pouco tempo e perdemos de vista o que é fundamental: a nossa vida do coração, a nossa vida espiritual, a nossa vida que é encontro com o Senhor na oração.
Na verdade, o Senhor surpreende-nos ao mostrar-nos que Ele nos ama até com as nossas debilidades: «Jesus Cristo […] é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (1 Jo 2, 2). Este dom, fonte de verdadeira consolação — mas o Senhor perdoa-nos sempre — conforta, é uma verdadeira consolação, é um dom que nos é concedido através da Eucaristia, aquele banquete nupcial no qual o Esposo encontra a nossa fragilidade. Posso dizer que quando recebo a comunhão na Missa, o Senhor encontra a minha fragilidade? Sim! Podemos dizê-lo porque isto é verdade! O Senhor encontra a nossa fragilidade para nos reconduzir à nossa primeira chamada: ser à imagem e semelhança de Deus. É este o ambiente da Eucaristia, é esta a oração.
Papa Francisco
Fonte: Vaticano
A SANTA MISSA
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Iniciamos hoje uma nova série de catequeses, que fixará o olhar no “coração” da Igreja, ou seja, na Eucaristia. Para nós cristãos, é fundamental compreender bem o valor e o significado da Santa Missa, a fim de viver cada vez mais plenamente a nossa relação com Deus.
Não podemos esquecer o grande número de cristãos que, no mundo inteiro, em dois mil anos de história, resistiram até à morte para defender a Eucaristia; e quantos, ainda hoje, arriscam a vida para participar na Missa dominical. No ano de 304, durante as perseguições de Diocleciano, um grupo de cristãos, do norte de África, foram surpreendidos a celebrar a Missa numa casa e foram aprisionados. O procônsul romano, no interrogatório, perguntou-lhes por que o fizeram, sabendo que era absolutamente proibido. E eles responderam: «Sem o domingo não podemos viver», que significava: se não podemos celebrar a Eucaristia, não podemos viver, a nossa vida cristã morreria.
Com efeito, Jesus disse aos seus discípulos: «se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia» (Jo 6, 53-54).
Aqueles cristãos do norte de África foram assassinados porque celebravam a Eucaristia. Deixaram o testemunho de que se pode renunciar à vida terrena pela Eucaristia, porque ela nos dá a vida eterna, tornando-nos partícipes da vitória de Cristo sobre a morte. Um testemunho que nos interpela a todos e exige uma resposta acerca do que significa para cada um de nós participar no Sacrifício da Missa e aproximarmo-nos da Mesa do Senhor. Estamos à procura daquela nascente da qual “jorra água viva” para a vida eterna?, que torna a nossa vida um sacrifício espiritual de louvor e de agradecimento e faz de nós um só corpo com Cristo? É este o sentido mais profundo da sagrada Eucaristia, que significa “agradecimento”: agradecimento a Deus Pai, Filho e Espírito Santo que nos abrange e nos transforma na sua comunhão de amor.
Nas próximas catequeses gostaria de responder a algumas perguntas importantes sobre a Eucaristia e a Missa, a fim de redescobrir, ou descobrir, como o amor de Deus resplandece através deste mistério da fé.
O Concílio Vaticano II foi fortemente animado pelo desejo de levar os cristãos a compreender a grandeza da fé e a beleza do encontro com Cristo. Por este motivo era necessário antes de mais realizar, com a ajuda do Espírito Santo, uma adequada renovação da Liturgia, porque a Igreja vive continuamente dela e renova-se graças a ela.
Um tema central que os Padres conciliares frisaram foi a formação litúrgica dos fiéis, indispensável para uma verdadeira renovação. E é precisamente esta também a finalidade deste ciclo de catequeses que hoje iniciamos: crescer no conhecimento do grande dom que Deus nos concedeu na Eucaristia.
A Eucaristia é um acontecimento maravilhoso no qual Jesus Cristo, nossa vida, se faz presente. Participar na Missa «é viver outra vez a paixão e a morte redentora do Senhor. É uma teofania: o Senhor torna-se presente no altar para ser oferecido ao Pai pela salvação do mundo» (Homilia, Santa Marta, 10 de fevereiro de 2014). O Senhor está ali connosco, presente. Muitas vezes nós vamos ali, olhamos para as coisas, falamos entre nós enquanto o sacerdote celebra a Eucaristia… e não celebramos ao lado d’Ele. Mas é o Senhor! Se hoje viesse aqui o Presidente da República ou qualquer pessoa muito importante do mundo, certamente todos estaríamos perto dela, e gostaríamos de a saudar. Mas repara: quando tu vais à missa, o Senhor está lá! E tu distrais-te. É o Senhor! Devemos pensar nisto. “Padre, mas as missas são tediosas” — “Que dizes, o Senhor é tedioso?” — Não, a Missa não, os sacerdotes” — “Ah, que os sacerdotes se convertam, mas é o Senhor quem está ali!”. Está claro? Não o esqueçais. «Participar na Missa é como viver outra vez a paixão e a morte redentora do Senhor».
Procuremos agora fazer-nos algumas perguntas simples. Por exemplo, por que fazemos o sinal da cruz e o ato penitencial no início da Missa? E aqui gostaria de fazer outro parêntese. Vistes como fazem as crianças o sinal da cruz? Não se sabe o que fazem, se é o sinal da cruz ou um desenho. Fazem assim [o Papa fez um gesto desajeitado]. É preciso ensinar bem às crianças a fazer o sinal da cruz. Assim começa a Missa, assim começa a vida, assim começa o dia. Isto significa que somos remidos com a cruz do Senhor. Olhai para as crianças e ensinai-lhes a fazer bem o sinal da cruz. E aquelas Leituras, na Missa, porque se fazem? Por que se lêem ao domingo três Leituras e nos outros dias duas? Por que estão ali, o que significa a Leitura da Missa? Por que se lêem e o que têm a ver? Ou então, por que a um certo ponto o sacerdote que preside à celebração diz: “Corações ao alto?”. Não diz: “Telefones ao alto para fazer fotografias!”. Não, não é agradável! E digo-vos que me causa muita tristeza quando celebro aqui na Praça ou na Basílica e vejo tantos telefones elevados, não só dos fiéis, mas até de alguns sacerdotes e bispos. Por favor! A Missa não é um espetáculo: significa ir encontrar a paixão e a ressurreição do Senhor. Por isso o sacerdote diz: “Corações ao alto”. Que significa isto? Recordai-vos: não levanteis os telefones.
É muito importante voltar aos fundamentos, redescobrir aquilo que é essencial, através do que se toca e se vê na celebração dos Sacramentos. O pedido do apóstolo São Tomé (cf. Jo 20, 25), para poder ver e tocar as chagas dos pregos no corpo de Jesus, é o desejo de poder de alguma forma “tocar” Deus para acreditar nele. O que São Tomé pede ao Senhor é aquilo de que todos nós precisamos: vê-lo e tocar nele para o poder reconhecer. Os Sacramentos vêm ao encontro desta exigência humana. Os Sacramentos, e a celebração eucarística de maneira especial, são os sinais do amor de Deus, os caminhos privilegiados para nos encontrarmos com Ele.
Assim, através destas catequeses que hoje começam, gostaria de redescobrir juntamente convosco a beleza que se esconde na celebração eucarística, e que, quando é revelada, dá pleno sentido à vida de cada um. Nossa Senhora nos acompanhe neste novo percurso. Obrigado.
Papa Francisco
Fonte: Vaticano
Ordenação episcopal do monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira
O monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira será ordenado bispo durante Celebração Eucarística na Catedral Cristo Rei, no dia 11 de fevereiro de 2021, às 10 horas – abertura do Ano Jubilar Centenário da Arquidiocese de Belo Horizonte. Será a primeira ordenação episcopal celebrada na Catedral Cristo Rei.
Os bispos ordenantes são: dom Walmor Oliveira de Azevedo, dom Joaquim Giovani Mol Guimarães e dom Vicente de Paula Ferreira.
Monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte pelo Papa Francisco, no dia 23 de dezembro de 2020.
Em razão da pandemia da covid-19, o convite é para que os fiéis vivenciem este momento especial a partir dos meios de comunicação. A ordenação episcopal será transmitida pela TV Horizonte (Canal 30, em sinal aberto), Rádio América (AM 750), outras emissoras católicas e redes sociais.
Monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira
Monsenhor Nivaldo dos Santos Ferreira nasceu em Barbacena (MG), no dia 3 de junho de 1967, penúltimo filho de Francisco Ferreira e Nersinha Therezinha Viol Ferreira, já falecidos. Entrou no Seminário Menor de Nossa Senhora da Assunção, da Arquidiocese de Mariana (MG), aos 13 anos. Após o falecimento de seu pai, em outubro de 1980, ainda permaneceu no seminário por mais um ano, mas voltou ao convívio familiar no final de 1981.
Ao mesmo tempo em que concluía os estudos do ensino fundamental, antigo 1º grau, em Ibertioga (MG), onde residiu com sua tia Iolanda Santa Rosa, trabalhou em uma padaria, aprendendo diversos serviços, inclusive administrativos.
Em 1984, entrou para o Seminário Menor da Congregação dos Padres Orionitas, em Belo Horizonte. Ali concluiu o Ensino Médio e deu início ao noviciado, mas deixou a congregação, em 1987. Na sequência, monsenhor Nilvado frequentou curso preparatório pré-vestibular e trabalhou em uma empresa distribuidora de produtos alimentícios.
No ano seguinte, ingressou na primeira turma da etapa do Propedêutico da Arquidiocese de Belo Horizonte. Estudou Filosofia (1989-1991) e Teologia (1992-1995) na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Foi ordenado diácono no dia 27 de maio de 1995, na Paróquia Santo Antônio, bairro Jaraguá. Foi ordenado presbítero no dia 18 de maio de 1996, na Paróquia São Sebastião do Barro Preto. Ambas ordenações presididas pelo cardeal Serafim Fernandes de Araújo, então arcebispo metropolitano de Belo Horizonte.
Já ordenado, iniciou mestrado na Faculdade Jesuíta. Em 2001, transferiu-se para Roma, onde concluiu o mestrado em Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana.
Monsenhor Nivaldo desempenhou diversas funções em seu ministério presbiteral na Arquidiocese de Belo Horizonte. Foi vigário, administrador e pároco em algumas paróquias da Arquidiocese, professor no Seminário Propedêutico e no curso de Teologia da PUC Minas. Também atuou como assessor eclesiástico da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), assessor arquidiocesano da Pastoral Familiar, vigário forâneo da Forania São José do Calafate e membro do Conselho Permanente de Formação do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus.
Atuou, de 2012 a 2018, como reitor do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus. Em seguida, assumiu a reitoria do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, no bairro da Graça, em Belo Horizonte.
O novo bispo auxiliar eleito da Arquidiocese de Belo Horizonte também foi presidente da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil no Regional Leste 2 (OSIB Leste 2), de 2009 a 2014, e da OSIB Nacional, de 2015 a 2018.
Atualmente, Monsenhor Nivaldo atua como formador e professor de Teologia para os candidatos da Escola Diaconal São Lourenço, coordenador do Grupo de Reitores de Santuários da Arquidiocese de Belo Horizonte e vigário forâneo da 4ª Forania Nossa Senhora das Dores, da Região Episcopal Nossa Senhora da Piedade, da Arquidiocese de Belo Horizonte.
DO BRASÃO EPISCOPAL
I – Deus Uno e Trino: a espiritualidade trinitária está indicada pela invocação central, na vertical, da Glória da Cruz: + Glória ao Pai (parte superior), + Glória ao Filho (Cordeiro Imolado — mártir, ao centro), e + Glória ao Espírito Santo (parte inferior).
II – A inspiração do Espírito Santo (símbolo da Pomba — parte superior central) preside toda a mensagem da “Paz, que é artesanal” (Papa Francisco). É o Espírito que pairava sobre as águas, na Criação (Gn 1,2); o Espírito do Ressuscitado soprado sobre os Apóstolos (Jo 20,22; At 2,2-4), para continuarem a Profecia e a missão da Igreja.
III – O Cordeiro Imolado, Jesus Cristo Redentor, explicita o lema “Oboediens usque ad mortem”.
- Livro do Profeta Isaías 52,13: “Vede! O meu servo prosperará, será exaltado, elevado, e muito sublime.”
- Livro do Profeta Isaías 53,12: “Por isso, vou partilhar muitos com ele, e com os fortes dividirá os despojos, pois entregou à
morte sua própria vida, e foi contado entre os criminosos. Ele, porém, estava carregando os pecados de muitos e agora intercede
pelos transgressores.” - Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 22,37: “Pois eu vos digo: é preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura:
‘Ele foi contado entre os malfeitores. O que foi dito a meu respeito está se consumando’.” - Carta de São Paulo aos Filipenses 2,8: “Obediente até a morte e morte de Cruz.”
- ✓ Obediência (do latim oboedire = escutar com atenção, de OB, “atenção”, +
AUDIRE, “escutar”). Escuta com atenção a Palavra do Pai, faze a vontade do Pai.
Sê livre, sê para… Entrega-te!
✓ Morte (do latim mortem): morte substitutiva (de Cristo), que nos livra da morte
eterna. É o Mistério Fontal: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. É o Mistério
da Páscoa: oblatividade universal: dá a sua vida por todas e todos. Esvaziou-se;
desapegou-se, humilhou-se… Kenosis.
✓ Cruz e Cordeiro em vermelho: pela força do Espírito de Amor, o Martírio: maior
testemunho. Cristo é Fiel até o fim, não para vencer, mas para servir: “Veio para
servir e não ser servido” (Mt 20,28). “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a
si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” (Mt 16,24). (Mística do Chamado).
IV – A Coroa representa Maria: ela é a Rainha do Céu e da Terra porque em primeiro lugar escuta com qualidade a Palavra de Deus e oferece o seu “Faça-se” (Lc 1,38). Maria é a primeira discípula/missionária. Segue seu Filho até a Morte de Cruz! Torna-se nossa Mãe pela solidariedade misericordiosa do Coração de Jesus. A palavra profética que nasce do seu cuidadoso coração é: “fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
V – As doze Estrelas: indicam a totalidade do Povo de Deus ao qual servir. Reunido pelas doze tribos de Israel (Ruben, Simeão, Judá, Zebulão, Isacar, Asher, Neftáli, Efraim, Manassés, Gad, Benjamim e Levi) e, depois, constituído pelos doze Apóstolos (Pedro, Tiago, João, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, Tadeu, Simão) enviados pelo Ressuscitado para a construção de uma “Igreja em saída” (EG 20), proclamadora da Palavra, samaritana, profética e servidora da Obra Redentora do Senhor, em todo o mundo.
VI – O Lírio representa José do Egito: irmão universal (Gn 37,11-28; 41,41ss). Representa acima de tudo José, descendente de Davi, de cuja raiz deveria nascer Jesus (Mt 1,16.20). Portanto, José escolhido e aberto à Palavra de Deus, “sonha os sonhos lindos de Deus” e não hesita em cumprir a Vontade de Deus que o chama: levanta-se e se coloca a caminho para cuidar e proteger a Vida da Mãe e do Filho (Mt 2,13) — as duas preciosidades da nossa fé. É “patris corde” (Papa Francisco): pai amado, de ternura, na obediência, no acolhimento, com coragem criativa, trabalhador, na sombra (silêncio eloquente).
VII – Na Barca de Pedro estão todas e todos os convidados (como os Apóstolos) a acolher a indicação do Senhor de “lançar as redes para as águas mais profundas” (Lc 5,4). Agitada pelos ventos e pelas ondas do mar da vida, essa barca não pode parar de buscar outra margem (sempre outra percepção). Assim, poderá colher, com ousadia e perseverança, a realidade última de cada pessoa, acontecimento, lugar cultural e social, principalmente das multidões mais pobres. A travessia da Igreja é em direção ao Reino da Justiça e da Paz. Daqui
se deduz que temos de dar passos, peregrinar, sem medo no caminho evangelizador, com Profecia e Testemunho, deixando marcas inspiradoras para facilitar a adesão a Cristo.
VIII – Nuvem: o “Lançar as redes” hoje é “entrar na Rede”. Tempos desafiadores de comunicação. De fato, a nuvem na Bíblia significa, tanto no AT quanto no NT, o lugar da auto-comunicação de Deus ao ser humano: por exemplo, “na manhã do terceiro dia…, uma nuvem espessa cobria a montanha…, o Senhor desceu sobre o monte Sinai, e chamou Moisés… (Ex 19, 16.20) e “Da nuvem veio a voz: ‘Este é o meu Filho Amado, Escutai-O’” (Mc 9, 7). Agora, da Nuvem Virtual (ciberespaço) deve ecoar a Palavra para todos que estão conectados, independentemente de raça, sexo, credo, cultura e realidade social. “Tudo está interligado!” (Laudato Sì, 138). O azul do mar é acolhedor
da nossa humanidade peregrina, responsável pela construção artesanal da justiça e da paz: “Vamos precisar de todo mundo: um mais um é sempre mais que dois, a felicidade mora ao lado… Para melhor construir a vida nova, é só repartir melhor o pão.” (Beto Guedes, Sal da Terra).
IX – O semicírculo verde que divide o brasão é habitado ecologicamente pela sonhada Casa Comum, que deve ser cuidada por todos. Recolhedora de energia pura (sustentável), para inspirar a Economia de Francisco e Clara, que prioriza a vida de todos, principalmente dos pobres, três antenas em movimento indicam o ser humano aberto a Deus, capaz de colher também a energia espiritual ininterruptamente — única que permite garantir a Ecologia Integral, da fraternidade e amizade social (Fratelli Tutti, 6).
X – Três montes são indicados na parte superior com as linhas coloridas em vermelho, verde e escuro. O Monte é o lugar da mística (pela ascese e oração, o diálogo salutar com Deus): “Jesus subiu ao monte para rezar” (Mt 14,23). O primeiro monte, em vermelho, alude ao Monte Calvário, onde foi fincada a Cruz de Cristo neste mundo para nos salvar. O segundo monte, escuro, a Serra da Piedade — Magnífica Arquitetura Divina (Jardim de Nossa Senhora da Piedade) — de que devemos cuidar, proteger e não explorar seu minério para abastecer a ganância e o lucro. É Casa Comum de todas e todos, e não fonte de riqueza de alguns poucos. Assim é toda a natureza, indicada pelo terceiro monte, que é o Monte Mário, situado na Serra da Mantiqueira, em Barbacena – MG, referência para o Distrito Rural do Faria, terra natal do bispo.
XI – O dourado que circunda toda a periferia do Brasão indica a opção preferencial pelos pobres e caídos (o ouro da Igreja), reafirmando uma Igreja samaritana e em saída. É o verdadeiro tesouro da Igreja, como menciona São Lourenço, mártir. São os preferidos de Deus e aqueles que foram buscados por Jesus, seja nas periferias das cidades (caídos e esquecidos pelos caminhos), seja nas periferias existenciais da sociedade adoecida pelo preconceito e pela injustiça social. De fato, Deus caminha conosco, luta conosco e não faz acepção
de pessoas (At 10,34).
Fonte: Arquidiocese de Belo Horizonte
Papa: a proximidade é um bálsamo para quem sofre na doença
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
«Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos»: este versículo do Evangelho de Mateus (Mt 23, 8) inspirou a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Enfermo de 2021, celebrado tradicionalmente no dia 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes.
O texto foi divulgado esta terça-feira (12/01) e é intitulado “A relação de confiança, na base do cuidado dos doentes”.
De modo especial, o Pontífice dedica a mensagem às pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do coronavírus. “A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.”
Ninguém está imune do mal da hipocrisia
Quanto ao trecho do Evangelho de Mateus, o Papa explica que Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem, mas não fazem. Esta crítica, afirma, é sempre salutar para todos, “pois ninguém está imune do mal da hipocrisia”, um mal muito grave, cuja consequência é reduzir a fé a “exercícios verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro”, isto é, uma incoerência entre o credo professado e a vida real.
A experiência da doença, escreve Francisco, nos faz sentir a nossa vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade natural do outro. A doença obriga a questionar-se sobre o sentido da vida; uma pergunta que, na fé, se dirige a Deus.
A doença tem um rosto
Como remédio à hipocrisia, Jesus propõe sentir empatia e deixar-se comover pelo sofrimento do irmão.
A doença, afirma ainda o Papa, tem sempre um rosto: o rosto de todas as pessoas doentes, que se sentem ignoradas, excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais.
Para Francisco, a atual pandemia colocou em evidência tantas insuficiências dos sistemas sanitários e carências na assistência às pessoas doentes, que deveria ser uma prioridade. “Isto depende das opções políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções de responsabilidade.”
“Ao mesmo tempo, a pandemia destacou também a dedicação e generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas: com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram, confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares.”
Com efeito, prossegue o Papa, “a proximidade é um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença”. Quem serve, fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até “padece” com ela. “Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas”, escreve o Pontífice, citando uma sua homilia pronunciada em Havana, Cuba, em 2015.
Confiança
Neste serviço para com os mais necessitados, Francisco aponta como decisivo o “aspecto relacional”, isto é, a confiança que se cria entre o doente e quem o acompanha.
“Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte inesgotável de motivações e energias precisamente na caridade de Cristo, como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres que se santificaram servindo os enfermos.”
As curas realizadas por Jesus, destaca o Pontífice, nunca são gestos mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe.
Que ninguém fique sozinho
Francisco então conclui recordando que uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno. “Tendamos para esta meta, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado.”
Por fim, o Papa confia todos os doentes e agentes da saúde a Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos. “Que Ela, da Gruta de Lurdes e dos seus inumeráveis santuários espalhados por todo o mundo, sustente a nossa fé e a nossa esperança e nos ajude a cuidar uns dos outros com amor fraterno. A todos e cada um concedo, de coração, a minha bênção.”
Fonte: Vatican news
Modificado o rito de imposição das Cinzas em tempo de pandemia
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou uma nota especificando os procedimentos a serem seguidos pelos sacerdotes durante a celebração da Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma: máscara e fórmula recitada apenas uma vez
Fonte: Vatican News
A situação de saúde causada pela crise pandêmica do coronavírus continua exigindo uma série de atenções que também se refletem em âmbito litúrgico. Tendo em vista o início da Quaresma deste ano, na quarta-feira 17 de fevereiro, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou em seu site as disposições a serem seguidas pelos celebrantes no rito de imposição das Cinzas.
“Feita a oração de bênção das cinzas e depois de as ter aspergido com água benta sem dizer nada – precisa a nota -, o sacerdote, voltado para os presentes, diz uma só vez para todos a fórmula que se encontra no Missal Romano: ‘Convertei-vos e acreditai no Evangelho’, ou ‘Lembra-te que és pó da terra e à terra voltarás’.”
Depois, prossegue a nota, “o sacerdote lava as mãos, coloca a máscara protegendo o nariz e a boca, e impõe as cinzas a todos os presentes que se aproximam dele, ou, se for mais conveniente, aproxima-se ele do lugar daqueles que estão de pé. O sacerdote pega nas cinzas e deixa-as cair sobre a cabeça de cada um, sem dizer nada”.
Cuidados e cuidadores
A humanidade vive triste flagelo em razão de colapsos nos campos da saúde, da economia e da política, que impedem o início de um novo ciclo civilizatório, evidenciando um grave problema: a generalizada falta de cuidado. É preciso, e urgentemente, revitalizar em cada pessoa, a condição de cuidador, para inspirar uma cidadania qualificada. Se o ser humano não assumir sua condição de cuidador, dificilmente conseguirá debelar pandemias, mudar cenários flagelados por desigualdades sociais e superar situações vergonhosas de exclusão, que geram cenários de guerra quando se consideram as estatísticas de mortos, de famintos e de encarcerados.
O compromisso de cuidar do próximo, que é irmão, se assumido pela humanidade, é alavanca propulsora capaz de tirar a sociedade de seus abismos. Possivelmente, há quem pense que essa constatação é simples inferência romântica, ingênua, com pouca incidência na realidade. Mas desconsiderar a força do cuidado é mais um obstáculo para se alcançar as metas desejadas pela sociedade, traduzidas nos votos repletos de esperança que tanto marcam o início de novo ano civil. O descuido com o próximo e com a Casa Comum comprova o tamanho da crise civilizacional que pesa sobre os ombros da humanidade. Faz a sociedade sofrer com processos de despersonalização, com desperdícios e, particularmente, com a indiferença que mata, pela economia, pela mesquinhez de apegos e por um precário sentido de corresponsabilidade em relação ao outro, que é irmão.
Assim, assiste-se a uma realidade em que inimizades e disputas alimentam almas vorazes que se deleitam com o fracasso alheio. Pobres almas que se apegam à ilusória proteção, pois somente contribuem para consolidar uma humanidade com caraterísticas autofágicas, na contramão de tudo o que os avanços científicos e as conquistas tecnológicas apontam. Sinal evidente dessa humanidade que se autodestrói é a dificuldade de se respeitar normas, a exemplo da recomendação para se usar máscaras, evitar aglomerações e, disciplinarmente, seguir protocolos sanitários, para combater a pandemia da covid-19.
Há, pois, uma carência no sentido de corresponsabilidade que incide no exercício da cidadania, contamina instituições, domina segmentos e obscurece a ação de autoridades – sem força de liderança para articular propostas, intuir estratégias e agir com rapidez para superar a pandemia e outras graves crises. A situação global exige de líderes respostas qualificadas e não permite titubeios – responsáveis também pelo caos social, sanitário e econômico que pesa sobre os ombros de todos, embora alguns, pecaminosamente, lucrem com o sofrimento alheio.
Urgente é despertar e educar a consciência de cada pessoa para que todos assumam a condição de cuidadores. O ponto de partida é a conversão de hábitos políticos, culturais e espirituais, para estabelecer um novo estilo de vida. Trata-se de um movimento civilizacional complexo, exigente, de aprendizagem desafiadora, pois são muitos os hábitos já assimilados, que alimentam pesados riscos. A falta de cuidado com o próximo e com a Casa Comum é estigma consolidado, facilmente identificado em diferentes gestos que revelam indiferença, desperdícios e carência de lucidez. Por isso, avanços na ciência e na tecnologia, que oferecem oportunidades para novos passos civilizacionais, tornam-se oportunidades perdidas, pois processos espirituais e adequado exercício da cidadania, que deveriam ser a regência das mudanças almejadas pela humanidade, permanecem aprisionados nas estreitezas de obscurantismos, polarizações, fechamento ao diálogo. Consequentemente, compromete-se a paz, o desabrochar da cultura. Contenta-se com um “ar viciado”, incapaz de arejar o exercício da cidadania.
Muitas vezes a humanidade parece estar em um “beco sem saída”, pois continuam a aumentar os prejuízos que ameaçam o presente e o futuro. Hoje, é urgente e muito aguardada a vacina capaz de proteger o mundo da covid-19. Mas é igualmente imprescindível que cada pessoa também busque imunizar-se de outro vírus pandêmico: o descuido com a Casa Comum e com o outro, que é irmão e irmã. Todos se tornem cuidadores uns dos outros. O gosto pelo cuidado seja assumido como ethos constitutivo e insubstituível do ser humano. A atitude de cuidar precisa alimentar processos de humanização.
O ponto de partida para tornar-se cuidador é a simplicidade de um princípio cristão de ouro: considerar que o outro é sempre mais importante. Assim, o cuidado com tudo e com todos se torna compromisso cotidiano, inspirando a opção preferencial pelos pobres e a preservação do meio ambiente. E a vestimenta interior de cada ser humano pode se livrar dos rancores e de outros males. Passa a ser tecida com os fios preciosos da solidariedade, que compõem a roupa do verdadeiro cuidador.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)